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Aceitar o formato e a cor naturais do próprio cabelo é um processo que pode levar tempo, mas quem já passou pela transição capilar jura que a saúde dos fios melhora muito com o adeus aos procedimentos químicos. O problema é que os cachos não crescem do dia para a noite, e é justamente essa parte que faz muita gente desistir: as pontas alisadas podem destoar da raiz natural, dando trabalho para manusear. Uma saída que muita gente encontra é o big chop.
O grande corte, que é o que significa a expressão em inglês, nada mais é do que a retirada com a tesoura da parte do cabelo muito danificada pela química. É uma alternativa mais radical do que esperar os fios crescerem por inteiro e ir cortando as pontinhas aos poucos. Se você está pensando em fazer o big chop, é sempre bom conversar com alguém que já tenha passado pela experiência. Não conhece ninguém? Conversamos por você:
Bia Barcelos, 25 anos, Rio de Janeiro
“Só quem já foi escrava da chapinha sabe como pode ser cansativo ter que esquentar e esticar os fios toda vez que vai sair ou quando o frizz dá as caras. O pior é a forma como a gente se limita e não se permite coisas simples, como tomar chuva, ir à praia sem neuras e entrar na piscina na frente dos amigos.
Eu estava em uma época em que a escova progressiva não me contentava mais, meu cabelo estava sem forma — com uma parte lisa e outra ondulada. O processo de autoaceitação começou quando passei a seguir e acompanhar canais no Youtube de mulheres que assumiram suas madeixas naturais. Com nove meses de transição capilar, já me sentia triste e irritada. As finalizações para cachear a parte sem alisamento nem sempre davam certo, e para ter uma noção de como eu iria ficar pós grande corte, comecei a tirar somente algumas mechinhas antes de decidir. Foi quando a ideia do big chop me pareceu ótima. Quem cortou o meu cabelo? Eu mesma! Gravei tudo e postei nas redes sociais. Era uma mistura de emoções, em que a vontade de cortar tudo de uma vez se misturava com a pontinha de arrependimento. Mas quando me vi toda cacheada, pensei: “Acabou a transição, acabou!”. Chorei. Porém não me achei bonita, me senti muito estranha e levei uns bons dias pra me acostumar.
Várias coisas mudaram. Por exemplo, é normal os cachos não terem definição logo no começo e ficarem mais ressecados. Tive que aprender a lidar com isso e adaptar o cronograma de tratamentos de acordo com o que aquele novo cabelo precisava. Para lavar o cabelo, por exemplo, é super rápido, aplico o shampoo uma vez. Só tomo cuidado para a máscara e o condicionador não encostarem no couro cabeludo, porque o cabelo está bem curtinho. Ainda tenho que fazer a texturização para garantir definição em algumas partes, mas nada comparado ao trabalho que tinha antes.
Ter que lidar com a nova imagem de si mesma, com o cabelo curtinho, é difícil. Mas nenhuma dificuldade supera o prazer de estar livre das químicas. É muito bom ter os fios saudáveis e com apenas uma textura. Os penteados se tornaram muito mais fáceis, graças ao big chop.”
Catarina Ferreira, 22 anos, São Paulo
“Eu tinha somente dez anos de idade quando alisei meu cabelo pela primeira vez. Ele sempre foi bem cacheado e eu tinha muita dificuldade em penteá-lo e desembaraçá-lo, e ver minhas coleguinhas fazendo isso sem grandes problemas aumentava ainda mais a vontade de ter aquela textura.

Quando minha mãe me levou ao cabeleireiro, já tinha certeza do que eu queria: cachos soltinhos e maleáveis. Porém, não sei se por falta de conhecimento ou má fé do profissional, ele acabou alisando tudo. Apesar de não ser o que eu desejava, gostei do resultado. Com o tempo, aprendi a escovar sozinha e deixar apenas algumas ondas no comprimento dos fios. Aos 16 anos, já havia feito tantas vezes o famoso permanente que eles estavam completamente danificados. Foi então que eu percebi que era a hora de parar com a química. Para disfarçar, só usava o cabelo preso. Considero 2014 o ano da grande decisão: queria começar a transição capilar. Eu tinha 18 anos e já não fazia mais procedimento químico algum, então tudo ocorreu mais naturalmente. Realizei o big chop, e com ele pude me acostumar mais com a estética dos cachos, apesar do choque inicial em ver o meu cabelo tão curtinho. Amo e não mudaria!

Desde então, já coloquei tranças, tirei, deixei os fios crescerem bastante e estou pensando em colocá-las novamente. Para mim, o maior benefício do big chop é que você pode conhecer o seu cabelo, descobrir que ele é lindo e não depende de químicas para isso. Sinto um calorzinho no coração agora!”
Carolina Marins, 22 anos, São Paulo
“Desde que comecei a alisar, já na adolescência, sempre tive consciência de que uma hora iria parar: não tem cabelo que aguente relaxamento, defrizzagem e escova progressiva de 6 em 6 meses. Meus fios, que eram muito grossos, foram ficando cada vez mais finos.
Sempre dizem que a faculdade é um ambiente que nos faz enxergar novos horizontes. Concordo. Lá, conheci colegas que estavam em transição capilar e que me incentivaram muito no processo todo. Passei a seguir os salões especializados em big chop para o dia em que criaria coragem de fazer. E o dia chegou, depois de oito meses da transição.
Optei pelo big chop porque a raiz natural já estava bem grandinha, então eu sabia que não estranharia tanto o comprimento do cabelo. Além disso, a parte alisada me dava muito trabalho. Eu fazia, todos os dias, texturização, mecha por mecha: enrolava os cachinhos à mão, um por um.
Se estamos com os amigos, sempre estamos bem acompanhados. Pensando nisso, no dia 22 de fevereiro de 2017, arrastei duas delas ao Retrô Hair, um salão de São Paulo especializado em cachos, para o grande corte. Quando o cabeleireiro começou, parecia cena de novela, com todo mundo muito emocionado. Eu estava ganhando minha liberdade! E três palmos do meu cabelo estavam indo embora.
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O rolê não foi lá aquelas coisas, mas pelo menos rendeu fotos boas 😚
Se o processo de aceitação foi fácil? Não vou mentir, no segundo dia acordei e quase nem reconheci aquela moça de cabelo curto do outro lado do espelho. Mas a questão é ter paciência e entender que o cabelo vai crescer.
Hoje, meus fios são muito mais saudáveis. Faço o cronograma capilar, técnica do no poo e não tenho mais nenhuma mecha com química. É óbvio que tenho mais trabalho agora do que quando alisava, mas sou feliz com o resultado. O big chop me ajudou a não cair na tentação de desistir da transição e alisar o cabelo de novo”.

21 anos, estudante de Jornalismo da ECA-USP. Atualmente estagiária My Beauty, já trabalhou na revista Boa Forma. Ama assuntos sobre beleza e saúde e é apaixonada pelo que faz.
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